terça-feira, 17 de junho de 2008

Avaliação dos alunos... Novas tendências Pedagógicas!




QUESTÃO PROPOSTA:6 + 7 =
RESULTADO APRESENTADO PELO ALUNO:
6 + 7 = 18

ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO PROFESSOR:

A grafia do número 6 está absolutamente correcta; O mesmo se pode concluir quanto ao número 7.
O sinal operacional + indica-nos, correctamente, que se trata de uma adição.
Quanto ao resultado, verifica-se que o primeiro algarismo (1) está correctamente escrito e corresponde de facto ao primeiro algarismo da soma pedida.
O segundo algarismo pode muito bem ser entendido como um três escrito simetricamente – repare-se na simetria, considerando-se um eixo vertical!
Assim, o aluno enriqueceu o exercício recorrendo a outros conhecimentos. A sua intenção era, portanto, boa.

AVALIAÇÃO: Do conjunto de considerações tecidas nesta análise, podemos concluir que:

A atitude do aluno foi positiva: ele tentou!
Os procedimentos estão correctamente encadeados: os elementos estão dispostos pela ordem precisa.
Nos conceitos, só se enganou (?) num dos seis elementos que formam o exercício, o que é perfeitamente negligenciável.
Na verdade, o aluno acrescentou uma mais-valia ao exercício ao trazer para a proposta de resolução outros conceitos estudados – as simetrias – realçando as conexões matemáticas que sempre coexistem em qualquer exercício...
Em consequência, podemos atribuir-lhe um "EXCELENTE" e afirmar que o aluno "PROGRIDE ADEQUADAMENTE".
É este o caminho!?
É isto que se pretende das nossas escolas?
Mas é para este caminho que estamos a ser levados...
Paulo Sousa.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

“ Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” - relação com a Educação!



Tendo em conta que sou professor, vou fazer uma análise entre as mudanças dos dias que correm no seu geral e a sua relação com a acção educativa, pois é isto que mais me preocupa.
Cada um de nós reconhece que a sociedade evoluiu aceleradamente, sobretudo nos últimos 20 anos. Todo o mundo experimentou mudanças profundas que marcaram significativamente os modos de vida; as noções de espaço e de tempo; a produção e consumo; as tecnologias usadas; os hábitos do quotidiano e as próprias expectativas das pessoas.
As crianças e os jovens crescem hoje num contexto social e cultural diferente, bastante complexo e incerto, mergulhado numa crise de valores, inundado por uma multiciplidade de canais de informação. A propagação mediática da violência; a convivência multicultural; a instabilidade dos agregados familiares; a forte concentração urbana no litoral; as aceleradas inovações tecnológicas e as novas preocupações ecológicas, são alguns aspectos que marcam as gerações de hoje.
O Portugal europeu que hoje somos, a paz de que beneficiamos e o desenvolvimento social e económico, que o nosso País tem inegavelmente conseguido, representam novos tempos e novas vontades das novas gerações.
São outras e melhores as oportunidades de que estas gerações usufruem para gostarem do seu País e nele construírem uma vida melhor.
A personalidade do ser humano constrói-se através das transformações que afectam o indivíduo de forma consciente ou inconsciente. A maioria dessas transformações dependem das relações que se estabelecem entre ele e o mundo, as outras dependem das transformações internas produzidas pela duração ou de interacções entre essas transformações e as relações que mantém com o mundo exterior.
Assim, a personalidade define-se por um equilíbrio interno entre os componentes (fisiológicos, cognitivos, afectivos, sociais...) e por um equilíbrio externo que caracteriza as trocas que ela mantém com o meio na qual está inserida.
Deste modo, nunca podemos dissociar a mudança dos tempos (sociedade, mundo exterior) e das vontades (personalidade, mundo interior).
Face a todas estas transformações, as atenções de todos dirigem-se crescentemente para o ensino e para a educação. De uns, que nela depositaram as causas de todos os males, de outros, que procuram nela uma tábua de salvação, e de outros ainda, que reconhecem nela o fundamento mais duradouro do futuro dos povos, para aí se ancorarem os caminhos do desenvolvimento.
Quase tudo se pede, hoje, à educação: seja para preservar e afirmar a identidade nacional, seja para formar os recursos humanos necessários ao desenvolvimento do País.
No entanto, o sistema educativo só conseguirá fazê-lo se for capaz de responder aos desafios que os novos tempos colocam aos vindouros; se os preparar para construírem o seu próprio futuro; se lhes der condições para realizarem, com sucesso, a sua educação escolar e, acima de tudo, se toda a comunidade nacional nisto se empenhar.
Exige-se hoje um novo ideal de sabedoria: saber, saber fazer, saber ser... e saber evoluir. Porquê?
Paulo Sousa.

“A importância da motivação no processo de ensino/aprendizagem“.



Na escola tradicional, ouvia-se muito este tipo de frases “ Quem muito fala pouco acerta “ ou “ Os meninos bem educados não fazem perguntas “. E o castigo era o prémio para quem se aventurava a exprimir ideias não caucionadas pelo meio em que vivia. Era uma escola em que o “ mestre “ era o soberano absoluto do saber, depositário do programa, uma escola muito afastada da vida, que não respeitava as individualidades de cada um, enfim, uma escola com uma disciplina rígida e por vezes lesiva. Era este o contexto em que se definiam os objectivos pedagógicos da geração dos nossos pais.
Hoje, a escola tem de estar muito próxima da vida, tem de desenvolver o espírito criador, tem de respeitar as individualidades de cada aluno e tem de substituir a disciplina rígida por uma autodisciplina do grupo e do indivíduo. O professor hoje, não transmite conhecimentos nem cria nos alunos destrezas ou habilidades que eles não possuíam antes. A criança aprende por si mesma, cabe ao professor a missão de guiar e estimular o trabalho do aluno para que este se sinta motivado e assim evolua positivamente.
Atrevo-me a dizer que a pedagogia é uma pesquisa sobre a actividade profissional do professor. No mundo dos nossos dias, o professor perdeu o monopólio da transmissão dos conhecimentos.
Concorrem com ele todos os grandes meios de comunicação e de informação: a rádio, a televisão, a imprensa, etc... O professor, hoje, não é mais que um meio entre outros, por isso tenta dar de novo à sua função uma razão de ser.
Não creio que o papel do professor consista em não fazer nada. Deve definir claramente os limites no interior dos quais a liberdade do aluno será total. O seu papel é o de manter esses limites, sem que sejam demasiado largos nem demasiados estreitos, e dar aos alunos os meios de os fazer evoluir.
Hoje, o professor, para enfrentar a prática pedagógica, tem de estar munido de “ instrumentos “ eficazes, e um dos mais importantes é a “ motivação “, que se tem que transmitir aos alunos para que estes não só diminuam o insucesso escolar, mas também se sintam felizes na escola e a vejam como um local agradável de aprendizagem. Para que o professor consiga transmitir esta “ motivação “, é necessário:
que o processo ensino/aprendizagem respeite a singularidade, a autonomia e a abertura de cada um;
que o feed-back aluno/professor estabeleça objectivos e realize estratégias, que contemplem os domínios cognitivo, afectivo e psicomotor em termos de mudança comportamental;
que haja espaço simultâneo para a autonomia e criatividade;
que se conceba a instrução apenas como organização estruturada de conhecimentos;
que a comunicação utilizada se identifique com a experiência e o mundo de vivências e interesses dos alunos;
que na programação estabelecida os conteúdos, estratégias e meios se combinem numa perspectiva inter-temática;
que os incentivos motivacionais estejam ajustados à maturação dos alunos;
e que a tecnologia em que a escola se apoia, permita avaliar o processo ensino/aprendizagem.
Se todas estas condições se verificarem, certamente que as crianças aprenderão, pois quanto mais atractiva for a informação melhor elas aprendem. Para que se verifique aprendizagem, no seu verdadeiro sentido, é necessário que haja motivação, prazer, liberdade e experiências vividas sobre o terreno. Tudo isto, “ Para que as crianças não sejam consumidoras passivas de tudo o que os adultos fazem para as animar “.
Paulo Sousa

“Será que os CASTIGOS deveriam existir na escola ?” A indisciplina!



Efectivamente, a indisciplina nas escolas é, na minha opinião, um dos problemas mais prementes e delicados com que hoje os professores se debatem.No entanto, a palavra “castigo”, em termos pedagógicos é muito “forte”, eu diria mesmo “violenta”. Vou falar nesta questão tendo sempre como realidade, as escolas do 1º Ciclo, que são as que me dizem respeito.Assim, dizer-se que se põe o aluno na “rua” ou fora da sala de aula, a nós, professores do 1º Ciclo, é uma questão que não se põe. Isto porque, simplesmente não o podemos fazer, ou seja, o aluno tem de ficar dentro da sala de aula. Como ultrapassar este problema ? Arranjando estratégias. Estas estratégias podem passar desde “gastar as energias das crianças no recreio”; leccionar uma aula de ginástica; fazer dramatizações; utilizar alguns métodos Freinet; arranjar algumas actividades pedagógicas dentro da sala de aula de forma que as crianças, sozinhas, as possam executar, sem perturbar o bom funcionamento da aula, até a uma observação cuidada e atenta de cada criança, no sentido de o professor perceber melhor os limites de cada criança. Até aqui só falei daquilo que o professor, sozinho, pode fazer. O professor pode e deve também pedir auxílio, sempre que necessário, à auxiliar de acção educativa, a um professor do Ensino Especial ou até a um psicólogo que exista (o que é difícil) na escola.
Mas, na minha opinião, os primeiros e principais educadores, são os pais, insubstituíveis no desenvolvimento educativo dos seus filhos, mesmo quando estes se encontram em período de intensa educação escolar. O sistema de ensino está ao serviço da educação escolar das crianças e do seu próprio desenvolvimento e, assim, encontra-se a par dos pais e encarregados de educação para os auxiliar na nobre missão de educar as novas gerações.Para que esta finalidade se cumpra, é necessário aproximar a escola do meio familiar e social em que a criança vive, já que aos pais e encarregados de educação cabe um papel decisivo nesse desenvolvimento.Deste modo deve pedir-se aos pais que:• acompanhem regularmente as actividades dos seus filhos;• os ajudem a desenvolver hábitos de trabalho e atitudes de cooperação;• sigam atentamente as informações fornecidas pela escola;• contactem frequentemente com os professores;• facilitem contactos e pesquisa de informação fora da escola;• colaborem na vida da escola.Só assim, é que será possível falar-se num ensino integral e harmonioso da criança, sem haver necessidade de se falar tanto em “castigos” e sem haver atritos entre professores e encarregados de educação, que na sua maioria dos casos é causado pela falta de diálogo e cooperação mútua.
Paulo Sousa

A Importância da Atitude dos Pais!




As atitudes sociais e amistosas das crianças dependem, muito, das experiências vividas em casa. Mas a família influi sobretudo através das atitudes dos pais.
Será interessante, em primeiro lugar, analisarmos alguns tipos de posturas paternas que não favorecem as atitudes sociais e amistosas dos filhos:
1. Pais que pouco ou nada se interessam pelos seus filhos e dedicam-lhes pouco tempo. O pouco tempo de convivência com os filhos deve-se, às vezes, a ausências prolongadas e frequentes do lar, de um dos pais ou de ambos. Em consequência, os filhos não vêem a casa como um lar, mas sim como uma residência (um hotel).
2. Pais dominadores, possessivos, autoritários, severos e exigentes. Este tipo de atitude contribui nuns casos para tornar os filhos irascíveis, impulsivos e agressivos, e noutros para desenvolver neles uma personalidade insegura e instável. Todas estas características podem trazer-lhes sérias dificuldades de adaptação à sociedade e à vida de amizade.
3. Pais super-protectores, que oferecem aos filhos mais ajuda do que eles precisam e julgam serem os únicos capazes de resolver todos problemas por eles. Esse proteccionismo “doentio” pode obedecer a um apego afectivo aos filhos, a um amor mal-entendido, ou, mais grave ainda, à fraca opinião acerca de algum filho, que os pais consideram incapaz de enfrentar situações próprias da sua idade. Uma criança super-protegida pode tornar-se excessivamente dependente dos outros: precisa da atenção, aprovação e ajuda quase contínuas das outras pessoas. Não desenvolve a capacidade de autonomia; não sabe iniciar actividades próprias nem lutar para vencer as dificuldades que se lhe apresentam. Nessas condições, a mentalidade egocêntrica própria da criança prolonga-se pela vida fora e pode não lhe permitir contribuir com nada de valioso para os outros e para a sociedade.
4. Pais permissivos, excessivamente indulgentes, que mimam os filhos e os deixam agir em função dos caprichos de cada momento. Esta atitude leva os filhos a tornarem-se egoístas e fracos, a esperar dos outros uma atenção contínua e a não saber aceitar a frustração de um desejo não concedido, levando-os a reagir de forma impaciente e agressiva. Uma vez que toda a convivência exige dar e não apenas receber, essas crianças dificilmente se adaptam a uma vida em sociedade.
5. Pais frios ou indiferentes para com os filhos, que não lhe dão mostras de carinho e afecto. Os filhos costumam agir, nas relações com os companheiros e amigos, com a mesma indiferença e frieza com que são tratados em casa. Costumam ser crianças tristes, pouco cordiais, que fogem das situações de convivência. E quando tentam relacionar-se com os outros, encontram dificuldades porque lhes falta o elemento central da amizade: o afecto. O problema é maior quando a indiferença dos pais se converte em rejeição, que nem sempre é aberta: às vezes, expressa-se em atitudes de insensibilidade ou de prepotência. Essa rejeição diminui a auto-estima dos filhos, a segurança em si mesmos, e pode dar lugar, mais adiante, a condutas anti-sociais que resultam da necessidade de "descarregar" a agressividade acumulada ou de chamar a atenção dos outros.

Quais as atitudes paternas que, pelo contrário, favorecem a capacidade dos filhos para a convivência?
Uma primeira resposta é a seguinte: todas as que ajudem a serem harmoniosas e satisfatórias as relações entre os esposos, entre pais e filhos e entre irmãos. Está mais do que comprovado que, se as relações familiares são adequadas, os filhos conseguem adaptar-se muito mais facilmente à convivência social fora de casa.
Uma dessas atitudes é o amor aos filhos. E não basta o amor teórico ou abstracto; os filhos precisam de expressões concretas desse amor dos pais todos os dias. Precisam de afecto e carinho no relacionamento pessoal. Os pais afectuosos ajudam os filhos a ter confiança em si mesmos e a relacionar-se com os outros de forma aberta e espontânea.
Mas o carinho com os filhos não deve significar falta de exigência. Precisamente por serem queridos é que devem ser exigidos de maneira progressiva. Com efeito, as crianças que não se sentem exigidas pelos pais consideram-se menos queridas, já que recebem menos atenção. O carinho aos filhos deve levar, isso sim, a uma exigência compreensiva, isto é, proporcionada ao que se pode pedir a cada filho em cada momento. É preciso, portanto, que os pais sejam ao mesmo tempo exigentes e compreensivos, o que, evidentemente, não é fácil. Na prática, diante dessa dificuldade, os pais costumam polarizar-se numa dessas atitudes, de forma que a compreensão sem exigência cria pais permissivos, e a exigência sem compreensão cria pais autoritários.
Diversas pesquisas confirmam as afirmações que acabo de fazer. Assim, por exemplo, Lieberman verificou que as crianças pequenas que se sentiam queridas pela mãe eram mais bem aceites pelos companheiros e participavam mais das actividades comuns na escola. Winder e Rau descobriram que os pais das crianças mais "sociáveis" tinham duas qualidades: eram muito pouco agressivos e proporcionavam-lhes muito apoio e reforço na sua conduta ("reforço" no sentido de que valorizavam e premiavam os comportamentos positivos dos filhos).
Se houver amor, haverá também aceitação de cada filho. A aceitação começa pelo desejo de que o filho chegue a existir. A aceitação implica também “esbanjar” - com gosto - os cuidados de que cada filho necessita. Os pais devem estabelecer uma relação ardentemente afectuosa com cada um dos filhos e fazê-los ver que são "importantes" na vida familiar. Comprovou-se que uma criança que se sinta aceite pelos pais "é geralmente cooperativa, sociável, amigável, leal, emocionalmente estável e simpática"; e que "encara a vida com confiança".
Há diferentes tipos de aceitação dos filhos por parte dos pais em função do amadurecimento emocional destes. Pais emocionalmente maduros aceitam o filho como um ser autónomo e capaz de participar activamente na vida familiar, ao passo que pais emocionalmente imaturos tendem a identificar-se totalmente com o filho, dificultando seriamente a conduta independente tanto deste como deles mesmos. É importante que os pais concedam a cada filho uma liberdade razoável, proporcional à sua idade. Quando se estimula a autonomia dos filhos, estes acabam por se tornarem "mais habilidosos, cooperativos, independentes e adaptados às situações sociais".
Terminaria por frisar que é importante fomentar desde a infância a vinda de outras crianças ao lar, sejam irmãos naturais ou adoptivos. Está comprovado que isso contribui para um amadurecimento mais precoce e para uma maior abertura aos outros.
Nota: Este texto foi elaborado com base no livro "Educar para a amizade", Editora Quadrante; e numa reflexão de Gerardo Castilho professor de Pedagogia e Psicopedagogia da Universidade de Navarra e pesquisador do Instituto de Ciências da Família da mesma Universidade.
Paulo Sousa.

O Luto de um Pai!





De acordo com a nossa sociedade, existem regras de comportamento e até de sentimentos.

Uma mãe que não expresse o seu sofrimento de uma forma clara, pode tornar-se vítima de comentários e assusta a sociedade com sua aparente “frieza”, e o mesmo, estranhamente, acontece quando um pai expressa toda sua emoção publicamente.

Os tipos de perdas e relacionamento também influenciam a aceitação social da perda. Por exemplo, a relação entre um pai e um filho abortado não é tão reconhecida quanto a de um pai com um filho maior, portanto, esse tipo de luto não é validado.

Na comunicação social, quando somos notificados da morte de algum jovem ou criança, quem aparece a fazer declarações e a resolver as situações burocráticas na maioria dos casos é o homem (pai). O que me parece que é desconhecido é que muitas vezes estes pais têm de conter seu sofrimento com a intenção de poupar a mulher, o que muitas vezes é visto como uma postura de frieza em relação à perda. O que não é verdade. É que no meio de tantas obrigações e expectativas sociais, fica difícil para os homens demonstrarem o seu sofrimento pela perda.

Lamento que o luto de um homem que perdeu um filho, não tenha direito a algum tipo de tratamento e acompanhamento psicológico.

Muito se estuda sobre a dor das mulheres e mães que perderam filhos, mas pouco se encontra nas prateleiras de livros e teses sobre luto, questões referentes ao luto paterno e ao luto masculino.

O Luto masculino acaba por ser marginalizado e pouco estudado, devido a regras sociais que impõem que os homens não devem demonstrar com lágrimas e emoções o seu pesar. Mas nem por isso os homens deixam de expressar de outras formas, as suas emoções, e por isso, o luto masculino, deveria merecer mais atenção.

Após a perda, e num primeiro momento, entramos em choque, não conseguimos acreditar na morte (perda) do filho, tomando uma postura de negação em relação ao ocorrido. Há uma tentativa de continuar a viver como se nada tivesse acontecido. É uma reacção de defesa contra o impacto da perda.
Depois, vem uma fase de raiva, muita raiva. É uma fase de bastante inquietação, onde acontecem os sonhos diários com o filho perdido.
Segue-se o desespero: fase bastante difícil, na qual, damos conta que, de facto, a perda é irrecuperável. É a fase de apatia e depressão.
Posteriormente, a depressão mistura-se com sentimentos bons, vamo-nos adaptando às mudanças ocorridas na nossa vida, consegue-se reinvestir a energia noutras coisas e a nossa relação com a perda é estabelecida de uma forma diferente e mais pacífica.
Na minha opinião, a grande dificuldade que os homens têm para superar o luto, é o facto desse luto não ser reconhecido.
Isto ocorre sobretudo quando a perda sofrida pela pessoa não é considerada significativa pela sociedade em que se vive. O grande exemplo é a perda de um filho abortado.
O luto paterno, não é, de facto reconhecido. A sociedade espera que um homem seja forte e não demonstre publicamente seu sofrimento. Assim, quando um homem sofre uma perda, muitas vezes, a sociedade e o grupo à sua volta reage como se o homem não sofresse (às vezes como se não existísse), e passa a dedicar o seu apoio à mulher, enquanto o homem se dedica a resolver aspectos burocráticos e concretos relativos à perda. De facto, o sofrimento masculino, muitas vezes, não é reconhecido.
E o problema é que um luto quando não é reconhecido, pode tornar-se num luto complicado e doloroso na medida em que o “enlutado” não pode ou não consegue expressar a sua perda como gostaria e/ou deveria.
Acredito que o impacto da perda de um filho em qualquer idade ou circunstância pode permanecer por anos, e essa é certamente uma das perdas mais devastadoras que um ser humano pode sofrer.
O luto de um pai, por aborto de um filho, dado não ser tão reconhecido, tem o problema de “adiar” o processo de luto. E porquê? Porque como ninguém oferece “ajuda”, o pai tem dificuldade de demonstrar as suas fraquezas publicamente e até, de pedir ajuda, pois isso (eventualmente) seria um sinal de fraqueza face às expectativas colocadas sobre ele. Ele passa a acreditar então, que as suas perdas não devem incomodar os outros, pois dizem respeito única e exclusivamente a si. Já as mulheres expressam facilmente seus sentimentos, sendo-lhes disponibilizadas ajudas, quer pelo núcleo familiar e amigo, quer de acompanhamento psicológico, previsto na lei.
Essa repressão dos sentimentos provoca nos homens diversas reacções fisiológicas, como insónia, mal-estar, stress, que acaba em fadiga.

Após esta explanação, gostaria de deixar aqui algumas questões para reflexão.

Caso o luto de um pai, que perde um filho abortado, fosse reconhecido pela sociedade, e o homem também fosse submetido a um acompanhamento psicológico a par com a sua esposa, a dor seria ultrapassada mais rapidamente? Ou, pelo menos, o casal compreenderia melhor a forma de sofrimento um do outro?

Se um pai enlutado tivesse tido a oportunidade de expressar seu pesar, no momento certo, sofreria menos?

Por fim, gostaria de alertar, para a importância da educação para a morte na nossa sociedade, para que as pessoas compreendam mais e aceitem todos os tipos de perdas e expressões de morte, evitando por vezes, que pessoas enfrentem lutos complicados, dolorosos e por vezes solitários.


Paulo Sousa