segunda-feira, 16 de junho de 2008

A Importância da Atitude dos Pais!




As atitudes sociais e amistosas das crianças dependem, muito, das experiências vividas em casa. Mas a família influi sobretudo através das atitudes dos pais.
Será interessante, em primeiro lugar, analisarmos alguns tipos de posturas paternas que não favorecem as atitudes sociais e amistosas dos filhos:
1. Pais que pouco ou nada se interessam pelos seus filhos e dedicam-lhes pouco tempo. O pouco tempo de convivência com os filhos deve-se, às vezes, a ausências prolongadas e frequentes do lar, de um dos pais ou de ambos. Em consequência, os filhos não vêem a casa como um lar, mas sim como uma residência (um hotel).
2. Pais dominadores, possessivos, autoritários, severos e exigentes. Este tipo de atitude contribui nuns casos para tornar os filhos irascíveis, impulsivos e agressivos, e noutros para desenvolver neles uma personalidade insegura e instável. Todas estas características podem trazer-lhes sérias dificuldades de adaptação à sociedade e à vida de amizade.
3. Pais super-protectores, que oferecem aos filhos mais ajuda do que eles precisam e julgam serem os únicos capazes de resolver todos problemas por eles. Esse proteccionismo “doentio” pode obedecer a um apego afectivo aos filhos, a um amor mal-entendido, ou, mais grave ainda, à fraca opinião acerca de algum filho, que os pais consideram incapaz de enfrentar situações próprias da sua idade. Uma criança super-protegida pode tornar-se excessivamente dependente dos outros: precisa da atenção, aprovação e ajuda quase contínuas das outras pessoas. Não desenvolve a capacidade de autonomia; não sabe iniciar actividades próprias nem lutar para vencer as dificuldades que se lhe apresentam. Nessas condições, a mentalidade egocêntrica própria da criança prolonga-se pela vida fora e pode não lhe permitir contribuir com nada de valioso para os outros e para a sociedade.
4. Pais permissivos, excessivamente indulgentes, que mimam os filhos e os deixam agir em função dos caprichos de cada momento. Esta atitude leva os filhos a tornarem-se egoístas e fracos, a esperar dos outros uma atenção contínua e a não saber aceitar a frustração de um desejo não concedido, levando-os a reagir de forma impaciente e agressiva. Uma vez que toda a convivência exige dar e não apenas receber, essas crianças dificilmente se adaptam a uma vida em sociedade.
5. Pais frios ou indiferentes para com os filhos, que não lhe dão mostras de carinho e afecto. Os filhos costumam agir, nas relações com os companheiros e amigos, com a mesma indiferença e frieza com que são tratados em casa. Costumam ser crianças tristes, pouco cordiais, que fogem das situações de convivência. E quando tentam relacionar-se com os outros, encontram dificuldades porque lhes falta o elemento central da amizade: o afecto. O problema é maior quando a indiferença dos pais se converte em rejeição, que nem sempre é aberta: às vezes, expressa-se em atitudes de insensibilidade ou de prepotência. Essa rejeição diminui a auto-estima dos filhos, a segurança em si mesmos, e pode dar lugar, mais adiante, a condutas anti-sociais que resultam da necessidade de "descarregar" a agressividade acumulada ou de chamar a atenção dos outros.

Quais as atitudes paternas que, pelo contrário, favorecem a capacidade dos filhos para a convivência?
Uma primeira resposta é a seguinte: todas as que ajudem a serem harmoniosas e satisfatórias as relações entre os esposos, entre pais e filhos e entre irmãos. Está mais do que comprovado que, se as relações familiares são adequadas, os filhos conseguem adaptar-se muito mais facilmente à convivência social fora de casa.
Uma dessas atitudes é o amor aos filhos. E não basta o amor teórico ou abstracto; os filhos precisam de expressões concretas desse amor dos pais todos os dias. Precisam de afecto e carinho no relacionamento pessoal. Os pais afectuosos ajudam os filhos a ter confiança em si mesmos e a relacionar-se com os outros de forma aberta e espontânea.
Mas o carinho com os filhos não deve significar falta de exigência. Precisamente por serem queridos é que devem ser exigidos de maneira progressiva. Com efeito, as crianças que não se sentem exigidas pelos pais consideram-se menos queridas, já que recebem menos atenção. O carinho aos filhos deve levar, isso sim, a uma exigência compreensiva, isto é, proporcionada ao que se pode pedir a cada filho em cada momento. É preciso, portanto, que os pais sejam ao mesmo tempo exigentes e compreensivos, o que, evidentemente, não é fácil. Na prática, diante dessa dificuldade, os pais costumam polarizar-se numa dessas atitudes, de forma que a compreensão sem exigência cria pais permissivos, e a exigência sem compreensão cria pais autoritários.
Diversas pesquisas confirmam as afirmações que acabo de fazer. Assim, por exemplo, Lieberman verificou que as crianças pequenas que se sentiam queridas pela mãe eram mais bem aceites pelos companheiros e participavam mais das actividades comuns na escola. Winder e Rau descobriram que os pais das crianças mais "sociáveis" tinham duas qualidades: eram muito pouco agressivos e proporcionavam-lhes muito apoio e reforço na sua conduta ("reforço" no sentido de que valorizavam e premiavam os comportamentos positivos dos filhos).
Se houver amor, haverá também aceitação de cada filho. A aceitação começa pelo desejo de que o filho chegue a existir. A aceitação implica também “esbanjar” - com gosto - os cuidados de que cada filho necessita. Os pais devem estabelecer uma relação ardentemente afectuosa com cada um dos filhos e fazê-los ver que são "importantes" na vida familiar. Comprovou-se que uma criança que se sinta aceite pelos pais "é geralmente cooperativa, sociável, amigável, leal, emocionalmente estável e simpática"; e que "encara a vida com confiança".
Há diferentes tipos de aceitação dos filhos por parte dos pais em função do amadurecimento emocional destes. Pais emocionalmente maduros aceitam o filho como um ser autónomo e capaz de participar activamente na vida familiar, ao passo que pais emocionalmente imaturos tendem a identificar-se totalmente com o filho, dificultando seriamente a conduta independente tanto deste como deles mesmos. É importante que os pais concedam a cada filho uma liberdade razoável, proporcional à sua idade. Quando se estimula a autonomia dos filhos, estes acabam por se tornarem "mais habilidosos, cooperativos, independentes e adaptados às situações sociais".
Terminaria por frisar que é importante fomentar desde a infância a vinda de outras crianças ao lar, sejam irmãos naturais ou adoptivos. Está comprovado que isso contribui para um amadurecimento mais precoce e para uma maior abertura aos outros.
Nota: Este texto foi elaborado com base no livro "Educar para a amizade", Editora Quadrante; e numa reflexão de Gerardo Castilho professor de Pedagogia e Psicopedagogia da Universidade de Navarra e pesquisador do Instituto de Ciências da Família da mesma Universidade.
Paulo Sousa.

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